Como lhe chamar?! Talvez visão? Não, provavelmente pesadelo ou tortura seria mais adequado. Perdi completamente a noção do quando, onde e porquê. Só me lembro daquilo que me encheu a mente: uma “maca” num quarto desconhecido, o meu pai ao meu lado a acalmar-me e… oh meu Deus, com uns dentes afiados e enormes que pareciam presas. E eu, com uma afinidade e ternura enorme olhava-o enaltecida, pois ele tinha algo na cabeça que, porquê não sei, me induziu em poder. Já não tinha o bigode adorável e farfalhudo que eu tanto gostava… e de repente houve um corte… todas aquelas imagens me pareceram um conjunto de flashes.
Quando tentei voltar àquele conjunto de flashes, apercebi-me que o Civic que eu guiava me tinha dirigido para fora da Estrada Nacional, entrado no desvio para a praia e estacionado no parque de estacionamento mesmo ao nível da areia. Devido a isso, não vi o que me acontecia na visão/pesadelo/tortura pelo qual tinha passado.
Enquanto caminhava em direcção a Hayden, apenas me lembrei do turbilhão de cores que se assolou no meu cérebro. Era tempo de os pôr de lado e voltar à realidade de vida que teria de ser mais bem justificada do que aquilo para o qual eu tinha argumentos.
H, o meu melhor amigo H…
æææ
Hayden estava tão perdido nos seus pensamentos que se assustou quando falei:
- Oi H, chegaste cedo.
- Que susto Sam! Pois, sou pontual… Sabes como é. Então, o que me querias dizer?!!
Ok, estava mesmo desconfortável com esta situação. Como é que lhe ia explicar isto?
- Bem H, sei que vais ficar zangado, ou ofendido, ou chateado, ou frustrado, mas…
- Mas?
Não conseguia falar mais. Tinha um nó na garganta. As cordas vocais latejavam de fraqueza. Tinha as lágrimas quase a cair. Agarrou-me nos ombros e disse:
- Sam! Fala comigo. O que se passa?!
- H, eu… eu… eu não posso vir trabalhar contigo.
Vi-lhe passar sentimentos mais diversos que as cores e tonalidades do arco-íris: tristeza, desespero, curiosidade, mágoa, tristeza outra vez…
- O quê?!!!
Foi desta. Rompi em lágrimas. Solucei tanto devido ao choro que me doeu o abdómen.
- Hayden, desculpa… Mas não posso. – Consegui eu dizer.
- Sam, porquê?
- H, não posso. Não sei bem porquê. Mas não posso. Vou embora.
Ele ficou de rastos. Triste. Magoado.
- Vais para onde?! – Vi-lhe uma centelha de desespero. Ele estava ali, à minha frente, a tentar saber o que eu não podia dizer há um tempão.
- H, eu queria contar-te. Mas não posso. A sério que não posso.
Hayden deixou de me agarrar. Deixou cair os braços em forma de derrota e virou-se para observar o horizonte. Desta vez, fui eu quem lhe agarrou nas mãos.
- H, olha para mim. Sei que não é fácil para ti – comecei – mas para mim também não. É muito complicado.
Não me encarou. Fez-me pensar como eu era horrível para ele.
-H, tenta compreender… Por favor.
Virou-se para mim com os olhos a transbordar de lágrimas e mágoa.
- Compreender o quê, Sam? Aquilo que não me queres dizer? Compreender aquilo que não entendi?
- Hayden, imagina que, além de ser proibido falar nisso, era um mistério para ti. Nem sequer sabes para onde vais, com quem ou porquê… vou estudar… Mas não sei bem o quê, nem porquê.
Ele estava a sofrer. Claramente. Baixou-se para tocar na areia.
-Porque é que me estás a fazer isto Sam? Diz-me. Já pensaste naquilo que querias e no que queres agora? O que é que te fez mudar a tua opinião?
- H, eu recebi umas cartas e uns e-mails… oh meu Deus Hayden, não posso dizer mais nada. Quem me dera poder dizer.
-Já disseste tudo o que me podia magoar? Ou ainda falta mais alguma coisa?
-Oh Hayden, tu és o meu melhor amigo e…
- Não, não sou Samantha. Parece que já não o sou. Temos segredos um para o outro e eu não sabia. Ou então não sou o confidente certo para ti, Sam. Adeus.
E virou-se para o parque de estacionamento.
- Hayden, espera!
Mas não esperou. Fui atrás dele, mas quando finalmente o apanhei, já estava dentro do seu carro. Bati ao vidro, mas ele não abriu. Abri-lhe a porta, até que ele me olhou.
-O que foi Sam? Achas que ainda não me magoaste o suficiente?
- Hayden, não vou forçar mais. Não queres falar comigo. Compreendo. Mas eu tenho os teus contactos; sei onde moras; quem são os teus amigos. Eu não te vou perder Hayden. Não agora.
Fechei-lhe a porta e ele foi embora.
Voltei ao meu discreto Civic e estava aberto. Eu tinha a certeza que o tinha fechado. Não restava mais ninguém ali. Apenas eu. Talvez me tivesse esquecido.
No banco do pendura, estava uma carta. Agarrei-a e abri-a:
“ Menina Windsor:
O sofrimento que o seu amigo Hayden Dickson está a passar será atenuado. Mandámos um bilhete em seu nome a explicar que a menina Windsor iria para uma Universidade estudar Investigação. Desta forma, e uma vez que a vossa amizade é realmente forte, deixaremos que mantenha contacto com ele, embora que esse contacto tenha que ser muito restrito. Ele ligar-lhe-á a pedir para se encontrarem novamente, e aí já não estará sozinha.
Os Directores
Dr. Shamus Christensen
Drª. Winnifred Boyden
Mas seria possível que, a cada vez que me questionava, esta “Universidade” estava sempre por perto?
Quis gritar. Gritar até não poder mais. Gritar até as minhas cordas vocais dilatarem e a garganta sangrar. Mas não o fiz. Com que então não ia estar sozinha?! Quem é que ia aparecer e salvar-me algo que eu não consegui: a minha amizade com Hayden?
Liguei a ignição e quis sair dali o mais depressa possível. Confesso que não estava a prestar a devida atenção à minha condução; mas de qualquer forma sempre conduzi dentro dos limites, por isso, não me ia espetar contra a árvore mais próxima. Quando estava quase a sair do desvio que me tinha conduzido à praia, senti um embate. Parei tão repentina e bruscamente! Oh meu Deus, entrei em pânico; atropelei uma pessoa! Saí de imediato, e fui à frente do carro. Estava um pouco para o amolgada do lado esquerdo. E o rapaz estava a levantar-se… oh Deus, era ele. Era o rapaz sem nome que eu havia visto há uns dias atrás da minha janela. Acho que emocionalmente estava pior eu que ele.
Adorei ^^
ResponderEliminarpostem a continuaçao rapidamente ^^
beijinhuus continhuem com o bom trabalho
Postamos de 3 em 3 semanas, embora a história já vá mais avançada...
ResponderEliminarbeijinho...
e obrigado...
Nunca mais é daqui a três semanas!!!
ResponderEliminarEstou ansiosa!!!:))
PS: Vês Sara, já não sou a única a dar vida!
Boa noite,
ResponderEliminarestou a gostar bastante desta história, está a ser muito interessante e dá imensa vontade de ler.
gostava de te/vos dar os parabens pelo o bom trabalho que estao a ter. e espero que coloquem rapidamente o resto do capitulo e a sua continuação.
mais uma vez parabens que o bom trabalho.
beijo