segunda-feira, 11 de abril de 2011

Continuação do 2º capítulo

- Tu estás bem?! Oh meu Deus, peço imensa desculpa. Não estava com atenção à estrada e depois não te vi e…
- Calma, eu estou bem, foram só uns arranhões…
Ai a voz dele! Era a coisa mais melodiosa que eu já tinha ouvido; suave como cetim, cálida como…como…qualquer coisa. Neste momento tinha que me preocupar com a sua parte física…ai opá, que era completamente perfeita. “Raios Samantha, volta à realidade”, pensei.
- Por favor, deixa-me ver isso. – Pedi.
- Não é preciso, eu estou bem. Foi só um susto e já passou.
- Olha, não sou enfermeira nem nada do género, mas o arranhão do teu braço é enorme. Tem mesmo má cara. O meu pai é bombeiro por isso obriga-me a andar com um estojo de primeiros socorros. Deixa-me tratar-te disso e depois levo-te às urgências, ok?
- Ena rapariga, não estejas preocupada. Muito bem, desinfecta isto. Mas não é preciso ir às urgências. Sou o Thomas. Thomas Blackrose. Tu és?
- Samantha. Samantha Windsor. Tens a certeza que não queres ir? – respondi eu da mala do carro, onde tinha o estojo SOS.
- A sério Samantha, obrigado.
Enquanto lhe desinfectava aquilo, ia pensando se seria melhor falar sobre a passagem dele perto da minha casa ou não, mas cheguei à conclusão que era melhor não.
- Bem, nesse caso… vemo-nos por aí, creio eu. – Foi a única coisa que consegui ordenar na minha cabeça. Quando lhe deixei o braço ele disse:
- Sim Samantha, sou eu o rapaz que viste na tua janela há uns dias. Já sabes o meu nome agora. Sabes, podias ter perguntado, eu responder-te-ia de boa vontade.
- Como sabes que eu estava a pensar nisso?! – Caramba, ele lia pensamentos ou quê?
- Não era muito difícil adivinhar, sabes?! Estavas demasiado preocupada com o… com alguma coisa e estavas completamente a leste das perguntas que te fiz enquanto me tratavas do braço. Também parei quando te vi na janela. Estava a sentir-me observado. Também a ti te deu um click na cabeça certo?! Eu reparei. Fizeste uma expressão facial bem bonita, até te digo. Desculpa dizer-te, mas ainda me ri à custa dessa expressão facial, sabes?! Há bastante tempo que não via alguém como tu…
Ele desenvolvia os seus pensamentos bem ordenados, mas tive que o interromper:
- Espera aí, perguntaste o quê enquanto te tratava do braço? E como sabes do click na minha cabeça? Não vias alguém como eu há algum tempo? Como é que eu sou? Desculpa lá, mas acho que não te estou a acompanhar. O teu raciocínio está a dar cabo de mim.
Corei. E bastante. O rubor nas minhas faces era notável e ele pôs-me a sua palma da mão fria na minha bochecha. Quando disto, disse:
- Verás que és especial. Como tu mesma disseste, vemo-nos por aí.
- Espera lá – a isto é que se pode chamar o cúmulo das coisas bizarras; e para essas coisas eu tenho jeito – especial? Vou ver isso quando?!
- Daqui a umas semanas, talvez mais, talvez menos. Logo darás conta. Cuida de ti. E vê lá, não atropeles mais ninguém.
Estava completamente baralhada. Especial, eu?! Oh por favor, eu era super normal. Levantei-lhe a mão e reproduzi um adeus, que saiu um pouco alterado em relação àquilo que eu estava à espera. Não consegui dizer nada.
Entrei novamente no carro, mas quando estava para arrancar, ele plantou-se à minha frente outra vez.
- Mas tu estás a ver se te matas? Já não tenho mais compressas! – Exclamei eu em tom de brincadeira.
Ele riu-se e acrescentou:
- Espero que a validade do desinfectante acabe agora mesmo. Tenho que aprender a lição e olhar para os dois lados quando atravesso a rua. Assim, mais ninguém se assusta.
Ri com ele. Tinha a impressão que me podia dar bem com este tipo.
- Porque voltaste? Esqueceste-te de alguma coisa?
- Por acaso até esqueci. De compor o que desfiz.
Esta não entendi mesmo. Ele desfez o quê?!
- A tua frente, do lado esquerdo. Ficou amolgada e é fácil de reparar a mossa. É só um jeitinho.
E realmente pareceu fácil a forma como ele fez aquilo.
- Bem, obrigado acho eu. Vendo as coisas como as expões até tens razão: vieste compor o que estragaste. Mas vistas as coisas do meu prisma, salvaste-me uma ida ao mecânico e uns bons trocos. O meu mecânico habitual é um pouco caro. Mas talvez nem precise do carro nos próximos meses, por isso.
æææ
Estava deveras embasbacada. Até que ele quebrou o gelo:
- Bem, seria muito pedir o teu endereço de e-mail?! Para eu te poder dar alguns conselhos de trânsito. Isto é, se não te importares, claro.
Ok, o meu cérebro não estava preparado para tanto. Primeiro a chatice com Hayden, agora o aparecimento de Thomas.
- Sim, claro. Consegues decorar um endereço?
Quando me acenou afirmativamente, repeti vezes sem conta o meu endereço de e-mail, até que ele o decorou.
Despedimo-nos com um aperto de mão incentivado por mim, mas quando lhe apertei a mão, ele puxou-me para junto dele e deu-me um beijo na face.
- É assim que os amigos se cumprimentam, quer quando se vêem, quer quando se despedem. Falamos depois.
Ruborizei novamente. Aquele beijo na cara foi extenuante. Acho que se podia comparar o meu coração com o TGV, pois neste momento ambos estavam a bater uma grande velocidade.
Vocalizei um “ sim, depois a gente fala-se” e meti-me dentro do carro. Fui até casa a pensar naquilo que aconteceu, mas desta vez com um pouco mais de atenção à estrada. Quando cheguei a casa, ainda ninguém lá estava. Óptimo, ninguém me ia fazer perguntas.
Fui directa ao meu quarto, a fim de aceder à minha caixa de correio electrónico. Dois novos e-mails. Espreitei o mais antigo deles, que era de Jane, onde perguntava em breves palavras se Patrick tinha manifestado alguma vontade de ter algo mais sério comigo, pois ela estava perdida de amores por ele. Teclei rápida e brevemente dizendo que não, que faziam um belo parzinho e que se precisasse de ajuda que podia contar comigo. Embora detestasse servir de cupido, ajudar os amigos nunca cansou ninguém, certo?! O e-mail mais recente era de Thomas. O coração palpitava aceleradamente quando o li.